sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

7 Meses depois...

Pára tudo! Hora de atualizar o blog. Porque como disse o outro, o homem precisa viajar. E se não der pra ir pessoalmente vamos pelas fotos mesmo... Pois bem, de fotos estou muito bem servido, difícil é lembrar dos detalhes e das informações relevantes das cenas representadas. Vou fazer o melhor possível.

Bem, desde a última postagem (sobre Paris), muitas e muitas coisas aconteceram. Primeiro, terminei o semestre na faculdade em Como, afinal prioridades existem por uma boa razão. Tão logo alcancei esse objetivo, lancei-me deliberadamente à vida de viajante, iniciando uma seqüência de viagens que só terminou em agosto, voltando ao Brasil. E como rapadura é doce mas não é mole, da mesma forma a vida em Sampa me esperava - aulas a todo vapor, quase um mês de aulas perdidas, e a meta de me formar no fim de 2008. Que sufoco! Mas "Deus é bom, paga bem e ainda dá troco" (palavras da Dani), então tudo correu bem. Terminei a faculdade (não sem muito sacrifício), e já emendei num emprego novo. E foi assim que eu demorei tanto pra ter condições de atualizar o blog. Ecco detto! Agora vamos ao que interessa.

Antes de tudo, uma boa ilustração de diferenças culturais.


Estação de trem na Itália


Estação de trem na Suíça

E lá vou eu, de mala e cuia (no meu caso mochila e chapéu), embarcando sozinho num trem rumo ao desconhecido (muito dramático).

Saindo da estação de Chiasso (cidade suíça encostada em Como), rumo à Alemanha.


Cruzei toda a Suíça de trem (leva umas 4 horas...), o que não foi nada mal. Aliás, não foi a primeira vez que me encantei com a paisagem. Continuo dizendo que é o lugar mais lindo do mundo*.
*Opinião parcial e tendenciosa, fortemente baseada em experiências pessoais bem-sucedidas.


Um dos vários lagos, com gramado perfeitamente verde, fileira de árvores ao longo da margem e uma igrejinha na colina com vista para o lago e para o pôr-do-sol. Não é paisagem, é cenário!


Breve parada em Zurique para troca de trem. 15 minutos, tempo suficiente para uma foto.


Chegando então ao primeiro destino, Munique (praça da prefeitura).

Na verdade eu já havia estado na cidade antes, porém dessa vez ela serviu só de base para eu poder visitar um antigo campo de concentração próximo dali, numa cidadezinha chamada Dachau. Como quase tudo na Alemanha, o local foi transformado em memorial e centro de visitação. E já que eu só tinha um dia e queria tirar o máximo proveito da experiência, paguei pela visita guiada, com comentários e explicações (o guia era da Nova Zelândia, quase que não entendi o inglês dele).


Esse era o nosso guia, e atrás dele o painel com imagens aéreas e dados históricos sobre o campo.


Já no portão de entrada, os prisioneiros se deparavam com os dizeres Arbeit macht frei, algo como "O trabalho liberta" (a mesma frase era colocada também em locais visíveis do pátio onde trabalhavam quase como escravos), um estímulo ao trabalho: quanto mais trabalhassem mais "rápido" chegaria a hora em que estariam saindo dali. Quando as condições se tornaram desumanas, e eles perceberam que jamais sairiam dali, o trabalho era o único escape, uma fuga da realidade cruel em que viviam (que incluía tortura, experimentos, etc.)


Vista externa de um dos inúmeros alojamentos, o único preservado (todos os outros foram demolidos). O campo era bem organizado e conservado, e a aparência ajudava a enganar os comitês que visitavam o campo para verificar as condições dos prisioneiros.


No interior do alojamento, as instalações dos prisioneiros.
-"Não parece tão ruim, certo?" - Perguntou o guia. Pensei comigo que era como uma cama normal. Então ele continuou: "Em cada leito dormiam umas 4 pessoas."
Uau...



Um dos cômodos usados para torturar prisioneiros, hoje parte do museu (há painéis espalhados por toda parte, com muita história sobre o nazismo e sobre o local). As marcas na parte superior das colunas indicam onde ficavam os ganchos. Em um determinado método de tortura, a pessoa tinha as mãos amarradas pelas costas e penduradas nesses ganchos. Após algumas horas de resistência, os ligamentos se rompiam e a vítima atingia uma posição totalmente vertical.


Apesar de tudo, havia resistência e oposição a Hitler. Nessa publicação, ele é retratado como um demônio.

Nos últimos anos da guerra, com o enfraquecimento da Alemanha, alguns recursos foram se esgotando. Os campos de concentração estavam superlotados, a munição se esgotava, e nem os experimentos científicos eram suficientes para diminuir o excesso de prisioneiros. Passaram a buscar então meios mais eficientes de "esvaziar" os campos de concentração. Descobriu-se que o gás usado para limpeza dos uniformes levava à morte, de forma rápida e imperceptível. Foi então que surgiram as câmaras de gás. Iludidos com a promessa de um bom banho, levas e levas de prisioneiros eram levados para uma sala onde se despiam, entrando então em um quarto escuro e bem fechado, com buracos que imitavam duchas no teto. Destes, porém, jamais saía água.


A câmara de gás.


O cômodo seguinte à câmara de gás era um crematório. Nos últimos meses, quando acabou o combustível, os corpos eram simplesmente empilhados nos fundos, uma das cenas que chocaram os soldados que chegaram aos campos para libertar os prisioneiros ao final da guerra.


Apesar de os alojamentos terem sido demolidos, suas bases foram preservadas, servindo de recordação.


Da mesma forma, construíram-se no local alguns memoriais, como este cristão...


...e o memorial judeu.


Após a conversão do local em centro memorial e de visitação, instalou-se essa obra (entre outras). O artista quis representar os prisioneiros que, numa tentativa desesperada de fuga, acabavam eletrocutados nas cercas elétricas.


Em ponto estratégico do memorial, as palavras que marcam a lição aprendida na Alemanha nazista: "Nunca mais", escrito em 5 idiomas (Hebraico, Francês, Inglês, Alemão e Russo).


E num local onde houve horror, da terra onde foi derramado sangue inocente, brotou o fruto da paz, trazendo flores que ajudam a transformar a tragédia em lição para a humanidade.
"Nunca mais"

Ao final da visita ao campo de concentração de Dachau, eu não era o mesmo. A experiência é intensa. Pisar no solo que foi cenário de tamanho desprezo pela vida não é nada trivial. É tão impactante, que hesitei em compartilhar tudo isso abertamente como estou fazendo. Porém, igualmente impactante é presenciar o peso da responsabilidade e o valor da lição aprendida que marcam o povo alemão, muito embora não sejam eles hoje diretamente responsáveis pelos acontecimentos. Ter perdido a guerra talvez tenha sido o preço pago pela Alemanha para construir uma base moral sólida sobre a qual se ergueu como potência mundial.

Mas quem sou eu pra falar de tão profundas coisas? Sou apenas um engenheiro. E ainda recém-formado... Volto então à exploração do velho continente. Dachau ficou para trás e saí de Munique rumo a Praga, na República Tcheca.


"Todos a bordo!" Mas hein? Só tinha eu!


A República Tcheca me dava as boas-vindas.


E a primeira vista de Praga não poderia ser mais apropriada. O visual sombrio (reparem no céu avermelhado) tem tudo a ver com o estilo gótico da cidade.


A cozinha da casa onde fiquei hospedado. Eu arrumei algumas pessoas pra me hospedarem em algumas cidades. Aqui dei muita sorte, a casa era super legal. Eu tinha chegado à noite e, no café-da-manhã, uma surpresa. A cozinha é conservada intacta desde a década de 60! Ou 70, não lembro exatamente.


Comida muito boa! Mas reparem que tinha até tomate... essa eu não encarei não.


Aqui uma vista da Praça Wenceslas, na cidade nova (Nové město). Apesar do nome, a cidade "nova" data do século 14. É que a cidade antiga (Staré město) data do século 9. Ao fundo, o Museu Nacional.


Saindo pra passear pelo centro. O mercado de rua mais popular da cidade, chamado em Tcheco de Havelská Trziste, é ilustração freqüente nos guias de viagem e tem suas origens no século 13.


Banca de flores. Calma, os preços não são em Euro! A moeda é a coroa tcheca ("koruna", ou "kuna"), menos valorizado em relação ao Euro.


O famosos relógio astronômico (Orloj), na praça da cidade antiga. A cada hora cheia centenas de pessoas (i.e. turistas) se reúnem para assistir à Procissão dos Apóstolos. É assim: acima do relógio tem duas janelas que se abrem, aí as estátuas dos apóstolos param em frente à janela e curvam a cabeça em reverência. Isso enquanto os sinos tocam em tom um tanto mórbido - a corda dos sinos é "puxada" pela caveira ao lado do relógio (nem pra colocar o anjo do outro lado pra puxar a cordinha... vai ser gótico assim em Praga, viu!)


Deixando o relógio de lado, eis que surge a magnífica igreja Týn, puramente gótica (século 14).


Na mesma praça havia um tipo de festival, e como é de praxe algumas banquinhas vendendo comidinhas. Nessa a mulher fazia um doce típico tcheco. É um tipo de massa enrolada num bastão que fica rodando sobre o fogo. Depois de assado. o "canudo" é coberto com açúcar e canela ou com baunilha.


O turista comendo o doce típico, com açúcar e canela. Estava gostoso, mas não tanto quanto eu esperava.

Aproveito para incluir um video do festival (acho que essa apresentação era de música catalã):


Apresentação de música e dança catalãs.



Ao fundo a ponte Charles (século 14), a mais famosa de Praga, sobre o rio Vltava.


Realmente fascinante. Pena que não tinha sol.


O castelo de Praga! Que é tudo, menos um castelo (como já havia me avisado minha amiga Natali). Construído entre os séculos 14 e 17, reúne o palácio do governo, a catedral de São Vito, o Jardim Real, entre outros.


Subindo para o castelo. Cidade dos telhados vermelhos.


Palácio do governo.


Catedral de são Vito.


De volta à cidade, numa rua qualquer. Mulher carregando 2 cães na mochila.


A Casa Dançante, uma obra-prima arquitetônica (Fred and Ginger)


Fechando com muita classe, o castelo visto da ponte Charles ao entardecer.

Praga foi tudo de bom. Finalmente, um dos mais mitológicos destinos turísticos europeus foi verificado pessoalmente. E não deixou nada a desejar. Seguindo em frente, rumo a Viena, na Áustria. De repente, mudança total de ambiente. Do gótico para o Art Nouveau. A cidade é extremamente agradável, muito limpa e muito bonita. Conta com vários museus e com as famosas apresentações de ópera. Lar de músicos e compositores, como Strauss e Mozart (que virou marca de chocolate, diga-se passagem). Tudo isso, porém, não pôde ser propriamente registrado. A bateria da câmera acabou, e não achei nenhum lugar onde pudesse recarregá-la. Então, só consegui tirar 2 fotos, que foram mais aleatórias do que eu gostaria. Bem, que seja então. Aí estão:


Acho que é um dos museus.


Havia uma exposição sobre o Egito, aí colocaram essa estátua gigante próxima ao museu para divulgação.

Além do problema com a bateria, também estava com muito sono, pois não havia dormido na noite anterior (questão de logística+orçamento). Peguei um bonde que ciculava pelo centro, passando por alguns pontos turísticos, mas quase bati a cabeça no banco cochilando. Quando desci, dei de cara com um parque com grama verdinha, e um monte de gente descansando, fazendo pique-nique, lendo, etc. Não pensei duas vezes, deitei e dormi. Foi ótimo! Mas só passei um dia na cidade, e à noite já peguei o trem pra Budapeste, onde teria novamente uma cama e um teto.

Mal sabia eu que, 3 dias mais tarde, estaria absolutamente fascinado pela cidade. Nada poderia ter me preparado para o que veria. Desta vez deixo de lado as datas e as curiosidades, e me proponho a roubar o fôlego de vocês com as imagens de Budapest.


Começando o paseio pelo centro. Ruas tranqüilas.


Moderno café na antiga cidade.


Rua de pedestres que "esconde" a catedral de São Estevão.


A catedral de São Estevão.


Jardim próximo ao rio Danúbio. Lá no fundo o castelo visto parcialmente.


Domingo, dia de feira. Banquinha com comidas típicas.


A ponte mais famosa. Primeira ligação entre Buda e Pest.


A colina em Buda, onde fica o castelo.


O castelo Vajdahunyad, nos "confins" de Pest.


O castelo Vajdahunyad à noite. Esse sim um verdadeiro castelo. Lindo!


O castelo em Buda.


De cima de uma colina em Buda, de onde se vê o Danúbio separando Buda e Pest.


Em um parque em Buda. Ao fundo o castelo.


Eis o castelo de Buda, que assim como em Praga não é bem um castelo, mas um conjunto de edifícios administrativos mais igreja(s) que datam da Idade Média.


O Bastião dos Pescadores. Um dos meus locais favoritos.


Arquitetura peculiar e marcante.


O prédio do Parlamento Húngaro.


O Danúbio, refletindo o azul do céu, separado deste por uma faixa dourada dos edifícios em Pest ao pôr-do-sol.


A silhueta de Buda e o tom rosado do Danúbio ao pôr-do-sol.

Depois de maravilhar-me com a capital da Hungria, rumei para o último destino do mochilão: a Croácia. Pois é, para mim também era muito estranho pensar que iria para a Croácia. Mas, vi algumas fotos na internet que me interessaram muito e, afinal, estava já tão perto... Então parti, com belas recordações e uma grande missão: encontrar a praia perfeita (areia branca e mar azul), já que o que se dizia pela Europa era que a Croácia era a nova "Costa Azul" do Mediterrâneo. Fui ver para crer.


Começando do começo. Chegando na capital Zagreb, cidade interessante. Essa fonte envolve uma lenda ligada à origem da cidade.


Feira de rua. Nessa hora, nada de inglês ou italiano, tive que me virar com meu alemão básico. Em compensação, foi só falar que era brasileiro que os caras se empolgaram, citaram até nome dos jogadores brasileiros! E viva o futebol.

Depois de passar rapidamente pela capital, decidi perseguir um sonho adquirido recentemente: conhecer as águas dos lagos Plitvice, no interior do país, mais ou menos a meio caminho entre a capital e o litoral. Foi uma das melhores decisões que já fiz. É inacreditável.


Um barco leva os visitantes até o outro lado do lago, de onde se começa a trilha pelo parque.


E o show começa.


O parque é patrimônio cultural da humanidade, e tudo é proibido (inclusive nadar, obviamente). Só se pode andar pelas trilhas delimitadas, que normalmente incluem passagens sobre as águas, como esta.


Alguns locais são sinalizados (placa com o nome da cachoeira).


São vários tons de verde.


Incrível.


Pra ajudar a entender, uma placa com o esquema geral do parque. São vários lagos, em diferentes altitudes, interconectados por cachoeiras. Não bastasse tanta sofisticação da natureza, a água ainda é incrivelmente límpida e tem um tom esverdeado. A trilha vai do lago mais baixo até o mais alto.


E olha que minha câmera é super básica.


Alguns lagos são bem grandes.


Depois de 1h30 de caminhada (subida, com mochilão nas costas), cheguei ao último lago. Felizmente, havia um ônibus para levar de volta à entrada do parque.

Depois dessa experiência única, estava realizado. Ainda assim continuei na minha grande missão: a busca pela praia perfeita. Peguei o ônibus para Split, uma cidade litorânea.


A cidade é muito antiga, e remonta ao Império Romano. De fato, foi originada em função do palácio de Diocleciano (antigo imperador romano), localizado à beira-mar, cujas ruínas dividem espaço com o moderno calçadão.


A vista do calçadão, enquanto eu deixava o centro para trás, em busca da praia perfeita.


Começando a me animar com os resultados da busca. A água já estava boa, mas ainda havia pedras em vez de areia.


Após 1h30 de caminhada (ainda com mochila nas costas), decidi que isso era o mais perto que chegaria do meu ideal. Bem, decidi baixar a montaria ali mesmo.


Até que não era nada mal.


A água estava na cor certa, e apesar de algumas pedras até que tinha areia branca. Pena que durou pouco. Já no final da manhã o tempo começou a fechar, e decidi iniciar a caminhada de volta. Não sem antes dar um mergulho, claro. Que água gelada!


Voltando a Split, olhando para a marina.


A cidade é até simpática, prensada entre o mar e as montanhas. Nesta foto se vê a torre dos sinos, símbolo da cidade.

Então, com o tempo fechado, o dinheiro acabando, e a validade da passagem de trem quase expirando, tive que abandonar o paraíso e começar a jornada de volta pra casa, na Itália. E lá fui eu, pegar trem após trem. Uma boa surpresa na volta foi atravessar a Eslovênia, onde testemunhei paisagens bem bonitas.


Na fronteira com a Eslovênia, parada para verificação de passaporte. Tudo OK.


Interior da Eslovênia.


Fiquei realmente surpreso com as belezas naturais.

Depois disso consegui chegar são e salvo em Como. Ali ficaria ainda por uma semana antes de inicar uma outra jornada, desta vez pela Europa Ocidental. Mas essa fica pra próxima postagem. Aguardem!